Receber o diagnóstico de câncer trás mudanças em várias esferas, muito além da ordem física. O momento do diagnóstico traz uma mistura de sentimentos e um grande impacto na dinâmica familiar. O tratamento oncológico pode durar meses e até anos, a depender do estágio e tipo do câncer. Compreender as mudanças potenciais relacionadas a cada membro da família pode ajudar o paciente e todos os envolvidos a lidar de forma mais saudável com o adoecimento, a adotarem medidas de crescimento pessoal e apoio mútuo.
Sobre o casal, o impacto pode se dar de diversas formas. Para alguns casais, encarar o desafio de lidar com a doença pode fortalecer a relação e estreitar o vínculo. Já outros, podem encarar de forma mais estressora e agravar os problemas já existentes.
Sem dúvidas, o tratamento do câncer muda a rotina do paciente e de todos os envolvidos. O tempo que antes era dedicado para atividades profissionais, do lar e divisão de tarefas pode ser direcionado para consultas e tratamentos como quimioterapia e radioterapia. Além disso, o tratamento ou a própria doença podem trazer sintomas e indisposição para realizar tarefas que antes eram desempenhadas pelo paciente. Naturalmente, as relações podem passar por mudanças de papéis, responsabilidades, novas necessidades físicas e emocionais e impacto na intimidade e sexualidade. Planos antes compartilhados podem necessitar de uma nova programação.
Uma pessoa que antes era habituada a tomar frente dos cuidados da casa e dos filhos ou tinha um papel mais significativo em prover recursos financeiros, pode ter dificuldade em assumir um papel mais dependente, podendo sentir culpa e invalidez. Por outro lado, quem passa a assumir mais tarefas e responsabilidades pode se sentir sobrecarregado, com sentimentos de frustração e até ressentimento. Não é incomum também que o parceiro assuma um papel superprotetor ou controlador sobre o paciente.
Para auxiliar no enfrentamento da doença e na organização saudável da nova dinâmica, é importante ter um diálogo aberto entre o casal sobre os sentimentos de cada um frente à tantas mudanças. Falar abertamente sobre os sentimentos, expectativas e limitações de cada um pode ajudar na busca de soluções que vão ajudar ambos a se sentirem mais confortáveis com as mudanças enfrentadas. Compartilhar decisões sobre o tratamento e sobre como irão redefinir a distribuição das tarefas da casa e do cuidado com os filhos pode trazer uma leveza e maior tranquilidade no processo do adoecimento pelo câncer e no seu tratamento. É importante que tanto o indivíduo com câncer quanto seu o parceiro saibam se acolher mutuamente e tentem lidar com a intensidade dos sentimentos sem se sentirem sobrecarregados.
A experiência do câncer pode remodelar a intimidade do casal. As mudanças físicas e emocionais que o paciente enfrenta podem impactar a sua vida íntima. A comunicação aberta se torna ainda mais essencial nesse aspecto.
O casal pode explorar novas formas de intimidade, encontrando maneiras de se conectar além do aspecto físico. Essa transformação da intimidade, embora desafiadora, pode levar a uma nova compreensão e conexão entre os parceiros.
Enfrentar o câncer é uma jornada desafiadora, mas também é uma oportunidade de construir resiliência como casal. Superar adversidades juntos fortalece a capacidade do casal de enfrentar futuros desafios.
Assim, ambos aprendem a lidar com a incerteza, a encontrar alegria nas pequenas vitórias e a apoiar um ao outro mesmo nos momentos mais difíceis. A resiliência construída durante essa jornada pode ser um dos legados mais valiosos desse período.
O apoio emocional mútuo é uma demonstração tangível de amor e solidariedade. À medida que enfrentam os altos e baixos dos tratamentos e das incertezas, saber que podem confiar um no outro torna a jornada menos assustadora.
Por outro lado, é igualmente necessário reconhecer e assumir os limites do paciente e do parceiro caso não seja possível a continuidade dos indivíduos enquanto casal. Que possa haver compaixão e apoio em uma possível separação, para que seja o mais saudável possível e sem culpas, visto se tratar de um momento já bastante delicado.
Buscar ajuda profissional com um psicólogo ou terapeuta pode ser de grande valia para enfrentar melhor com a situação. Conversar abertamente com seu médico pode ajudar a compreender o passo a passo do tratamento e o que esperar durante este processo. Conhecer a proposta de cuidados pode reduzir a ansiedade que comumente ocorre frente ao inesperado.